domingo, 16 de novembro de 2014

A Torre de Menagem de Beja e as suas patologias


ICONOGRAFIA PACENSE

Estes inestéticos  contentores estavam mal colocados e foram retirados da frente externa da torre, porém, ainda lá continua o outro redondo, mais profundo, posicionadono seguimento axial da porta romana de Évora. Há que pensar antes de concretizar estes projectos sociais e de salubridade. 



Em A e B notam-se bem as faltas de material. Por enquanto este varandim (esquina oeste) mantém-se, mas, até quando?

Varandim oeste em 1943. Já se notavam quebras nos cachorros
de suporte do balcão virado para o largo de Santo Amaro. 
A Torre de Menagem não está a cair

Cai um fragmento de pedra do castelo e, ai Jesus!, que lá vem a torre por terra…
Não é a primeira vez nem será a última que o monumento mais visitado da cidade de Beja encerra parcialmente ao público. Ao contrário do que pensávamos, é uma atitude responsável e previdente por parte da Câmara Municipal e do IGESPAR, embora a julguemos um pouco tardia, mas nem por isso extremamente lesiva da defesa do monumento que ainda está a tempo de ser devidamente intervencionado com os trabalhos de restauro e consolidação que necessita. O mármore não é eterno, também sofre ao longo do tempo alterações químicas e físicas que o fragilizam. A cantaria sobreposta e justaposta resiste a grandes pressões, mas soçobra perante as infiltrações de água, as grandes amplitudes térmicas e os sismos que por menos intensos e “insignificantes” que sejam deixam marcas que se vão acentuando até ao ponto de se tornarem tão visíveis que não podem ser ignoradas.
            A Torre de Menagem do castelo de Beja, devido aos seus pergaminhos históricos[1], foi classificada como Monumento Nacional no dia 16 de Junho de 1910, ainda no período da monarquia. Porém, nestes cem anos (mais uma efeméride), só a partir de 1938, sob a orientação da DGEMN, lhe prestaram alguma atenção, restaurando-a e desafrontando-a de casas que a asfixiavam, demolindo em simultâneo outras que eram do maior interesse para a história da cidade e do próprio castelo. Destes aspectos já demos notícia em crónicas anteriores da Iconografia Pacense. Adiante.
            O balcão saliente (machicoulis), assente sobre cachorros, constituídos por vários blocos marmóreos sobrepostos, que ao nível do 3º piso antecede o acesso ao miradouro do terraço, é uma obra de arquitectura notável pelo elevado sentido estético que a engenharia do século XIV solucionou. É precisamente neste balcão que os elementos salientes, sujeitos a maior esforço, mostram a fadiga dos anos, apresentando as patologias mais problemáticas do edifício medieval. Dos pontos que mostram fissuras, de vez em quando, destacam-se alguns fragmentos marmóreos que vão cair nas imediações da base da torre, quer no interior da praça de armas quer no exterior junto á barbacã e porta falsa. Foi o que aconteceu no ângulo norte do “machicoulis” há pouco menos de trinta anos e é, também, o que está a acontecer agora, mas não com a gravidade de então.
            Fazemos votos para que seja realizado com brevidade, não só a olho, mas também com a utilização de instrumentos científicos, um diagnóstico sério das patologias que afectam o monumento, para que o tratamento proposto lhe restitua a autenticidade e a solidez.
Os bejenses podem descansar porque o seu exlibris, a Torre de Menagem, não vai cair pelo simples facto de o visitarem. A Torre está ali para durar e se houve a intenção de a encerrar totalmente ao público até ao final da intervenção de que há-de ser alvo, foi mais pelo receio de que alguém, por uma infeliz coincidência, ao aproximar-se, fosse atingido pelos fragmentos referidos.
Portanto, a Torre, não está totalmente encerrada ao público. Qualquer visitante pode, sem chegar ao “machicoulis”, entrar nas duas primeiras salas e apreciar a junção entre os estilos gótico e mudéjar e a sabia passagem, na primeira sala, através de trompas, de uma superfície pentagonal para uma cobertura octogonal, enquanto na segunda sala, octogonal, a mais importante e maior, se abrem para a planície e para a cidade três janelas geminadas ogivais e um balcão sobre a praça de armas. A complexa abóbada desta sala, nervurada e em estrela, é das mais belas do país, um nadinha semelhante, mas mais elevada e mais antiga, do que Ada capela do fundador no mosteiro da Batalha.
Sabemos, pelo vereador Miguel Góis, que estão em curso melhoramentos no castelo e que haverá necessidade, tal como alvitrámos, de há dois anos para cá, de abrir um novo posto de turismo fora do castelo. Há dois anos o castelo fechou durante vários meses, apesar de todos os pedidos que fizemos em sentido contrário, impedindo a visita a milhares de utentes da OVIBEJA, cujo certame, incontornável na cidade, no Alentejo e no país, confere às entidades competentes maior responsabilidade. Mesmo assim, apesar do sucesso da OVIBEJA, ainda há quem não lhe veja vantagens. Feitios…
Desta vez, apesar das patologias de que sofre o monumento, o castelo está aberto. Já só falta o Museu Militar, para que sejam dignificados todos aqueles que ofereceram o espólio que antes pertencia às suas famílias.

 [1] A torre medieval militar mais alta de Portugal, com 40m; a sua relação estreita com os acontecimentos da Revolução de 1383/85; a arquitectura gótica de feição mudéjar numa torre esbelta, bem proporcionada, no centro da planície alentejana; o seu contexto urbano, rodeada de monumentos sui generis como a basílica de Santo Amaro, Hospital Grande de Nossa Senhora da Piedade (agora chamado de Santa Casa da Misericórdia, coisa que nunca foi, nem nunca lhe pertenceu), Igreja de Santiago, Porta romana de Évora, tudo contribuiu para a sua classificação, havendo até uma Zona de Especial de Protecção que, como tem sido norma na cidade, não tem sido respeitada. Extramuros bem têm crescido os “tapumes” que
condicionam  a sua visão plena.





O canto mais saliente, virado a sul, era o local de onde os visitantes mais fotos tiravam à cidade. Mais peso, maior movimento, associado à fadiga dos materiais e a outros factores naturais, sismos, etc., terão contribuido para o seu colapso, ocorrido no dia 13 de novembro de 2014 pelas 17h e 15m aproximadamente.
Fragmentos dos cachorros, parapeito e merlões do varandim sul do machicoulis


Ângulo sul da torre de menagem de Beja e arco romano das portas de Évora

Nota: este artigo veio publicado em 2010 no Diário do Alentejo, portanto, nada de confusões, refere-se à realidade desse momento. A vereação municipal era outra, sabia-se que a torre não estava de muito boa saúde e estava em curso, mas parece que nunca foi concluída, uma análise mais profunda das patologias do monumento. Tal como dissemos neste artigo, o que acontecera quase trinta anos antes com a queda de um suporte, cachorro, do varandim norte da torre, poderia voltar a acontecer, em qualquer altura, se não fossem tomadas as precauções necessárias. Foi o que aconteceu no dia 13 de Novembro de 2014, colapsou a parte mais saliente do varandim sul do “machicoulis” que envolve a torre. LBorrela



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Vãos mudéjares de Beja e Moura

Iconografia PACENSE (publicado no Diário do Alentejo, 2010)

Vãos mudéjares de Moura e Beja

Remonta à antiguidade pré-romana a ocupação e mais que provável fortificação da cidade de Moura. As prospecções arqueológicas realizadas nos últimos dois decénios não deixam qualquer dúvida sobre a permanência dos povos da Idade do Ferro e o evoluir da sua história através da romanização, cristianização e islamização, até integrar o território português no primeiro terço do século XIII.
Contudo, apesar da história da evolução urbana de Moura constituir tema interessante a desenvolver, pela rapidez com que ultrapassou os muros medievais, vindo mais tarde a exigir uma fortificação abaluartada de muito maior perímetro que defendesse a vila extramuros, não é esse o propósito deste artigo.
Em 1562, no reinado de D. João III, D. Ângela de Moura fundou um convento feminino da Ordem Dominicana, sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, no interior das muralhas medievais sobre as fundações da mesquita a que se sobrepusera a primeira igreja matriz. Rasgando uma das paredes mais antigas, possivelmente reaproveitada na construção deste convento, vimos, em 1982, um vão de portal, aparentemente ogival, integrado num alfiz (moldura rectangular que costuma envolver nos edifícios islâmicos um vão de porta ou janela) construído em tijolo e ainda com vestígios de aplicação azulejar, talvez hispano-mourisca (ver reprodução fotográfica). No passado ano, revisitámos o local mas o portal tinha desaparecido. Deve ter sido destruído, total ou parcialmente, pela derrocada da parede que o integrava e assim se perdeu mais uma parcela da arte mudéjar, testemunho da continuidade da presença muçulmana em território cristão.
Por outro lado, em Beja, durante o ano findo, também se descobriu na parede exterior de uma casa da Rua Manoel Homem, a primeira logo à direita e no sentido descendente, transversal à Rua Dr. Aresta Branco, um portal do mesmo género, talvez mais recente do que o de Moura, contudo ainda do final do século XV ou do início do seguinte, também construído em tijolo. Porém, foi interpretado como um vão de janela e a profundidade do alfiz que emoldurava o arco quebrado encheu-se com argamassa até não se distinguir mais do plano da parede. Nesta reabilitação ou recuperação patrimonial só o arco de tijolo ficou à vista. Enfim, palavras para quê?
A maioria das construções islâmicas desapareceram, foram arrasadas, mas subsistiu o gosto pela sua arte e a sua influência, através do mudejarismo, chegou a todo o género de edifícios que fossem religiosos, militares reais ou civis. A torre de menagem de Beja é um dos melhores e mais completos exemplos da conjugação medieval entre as arquitecturas gótica e muçulmana. Quase todos os seus portais se abrem num alfiz, além da característica janela com arco de ferradura que espreita a alcáçova sob o machicoullis (balcão saliente que envolve a torre servindo de caminho de ronda entre as segunda e a terceira salas); no interior do primeiro piso a abobada oitavada de fecho único irradia as nervuras até às trompas que permitem a reconfiguração da planta quadrangular da sala, enquanto três “mísulas”, destinadas provavelmente a suportar a iluminação, são decoradas por pequenos alvéolos sobrepostos alternadamente.
Outros pormenores arquitectónicos da cidade de Beja, como os botaréus, coruchéus cónicos e merlões chanfrados, da ermida de Santo André e da galilé da igreja de Santa Maria, além de algumas das abóbadas de aresta, denunciam a persistência e a importância da arte mudéjar nos séculos XIV e XV.  

As imagens documentam o que descrevemos.

Leonel Borrela

Nota: Após a publicação deste artigo, voltámos Moura para revisitar o local onde se encontrava o portal, e, entretanto, como ninguém de Moura ou responsável pela prospecção e salvaguarda do seu património comentou o nosso artigo, como já é costume e não só em Moura, corrigimos aqui o que afirmámos quanto à sua hipotética destruição. De facto, parece que o dito portal estará parcialmente preservado, pela justaposição de uma estrutura adequada. Pouco mais podemos dizer. Contudo, embora reconheça a super-ocupação de quem nos poderia esclarecer, está visto que não é hábito o diálogo público de questões desta natureza, normalmente tratadas por carta, entre amigos, ou em colóquios afins. Esperávamos que a Iconografia Pacense, com mais de duzentos artigos, muitos deles inéditos, publicados no jornal Diário do Alentejo - com grande esforço pessoal e sacrifício familiar - entre 1995 e 2012, constituísse um contributo valioso para o estudo e a divulgação do nosso património cultural e não um empecilho, aparentemente, é o que vemos, desvalorizado, esvaziado de qualquer interesse. LB

domingo, 18 de julho de 2010

Pinturas murais sobre a Eneida de Vergilio, na Rua do Sembrano

A Eneida de Virgílio numa pintura mural da Rua do Sembrano em Beja


O texto que acompanha estas fotografias é semelhante ao que enviámos, em Janeiro deste ano (2009), por e-mail ao arqueólogo Jorge Feio, pedindo-lhe que dele desse conhecimento à sua colega Ana que acompanhou, desde o início, as obras de remodelação de um antigo imóvel da cidade de Beja, sito na Rua do Sembrano nº 38, 40, 42 e 44, da freguesia de S. João Baptista, onde se descobriram várias pinturas murais, realizadas a óleo sobre estuque, com temáticas decorativa e histórica. Ao fim de seis meses, dado que as pinturas já desapareceram, deixamos para a posteridade o testemunho da sua existência (publicado no Diário do Alentejo, em Julho de 2009).
A freguesia de S. João Baptista é, na história e no plano urbanístico da cidade de Beja, a que reúne as casas mais ricas e mais salubres, devido ao seu posicionamento na encosta sul, ficando expostas ao sol durante a maior parte do dia. É, igualmente, a freguesia onde se têm encontrado mais pinturas murais, algumas já destruídas, e um número razoável de vãos com cantarias góticas e manuelinas. O imóvel que tentaremos descrever integra-se com toda a justiça neste ambiente senhorial.
A casa de dois pisos, com uma área de base que ultrapassa a própria fortificação medieval, de implantação romana, está hoje bastante reduzida na sua antiga volumetria, conclusão a que se chega pela análise de vãos entaipados que a ligavam aos edifícios adjacentes. Muito modificada no século XIX, dela desapareceram os brasões que ostentava (um deles encontra-se na colecção “Zésinho Santos”, de José Mendonça Furtado Januário, propriedade da câmara municipal de Tavira) dos fidalgos Faria e Melo. Na mesma rua e ao lado, no nº 36, subsistem em, pelo menos, duas salas, pinturas murais, também executadas a óleo sobre estuque, de carácter romântico, assim como retratos da realeza da 1ª dinastia – a casa pertence ao nosso amigo, professor Francisco Lopes Pereira Guerreiro, cujos progenitores nela viveram desde meados do século XIX, e vem estudada por Túlio Espanca, a pp.211 e 212, do Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Beja, publicado pela Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1992. Segundo a informação autorizada de Pereira Guerreiro, não só a sua própria casa integrava esse grande palácio dos Faria e Melo, como se prolongava pela área do Desportivo de Beja.
Para a memória e inventário do imóvel considerado, que a empresa Construções Moinhos de Santa Maria, sua proprietária, pretende adaptar a vários apartamentos T1 e T2, revela Túlio Espanca (1992, 214) que o número de polícia 38, apresenta um portal manuelino, de verga lobulada, composta por duas pinhas estilizadas, de relevo, do 1º terço do século XVI; o nº 42 possui uma verga semelhante à anterior, golpeada no alfiz, por inscultura de volutas com enrolamento - os restantes elementos, que admitimos [diz o autor] terem pertencido a outro portal, substituíram os desaparecidos, originais, também do 1º terço do século XVI; e o nº44 que, devido à falsa pilastra que parece dividir o imóvel, Túlio Espanca considera como sendo de outra casa: “Casa antiga, com portada de verga direita, jambas de chanfros e bases flordelizadas, de pedra da região (séc. XVI). Janela guarnecida por grades de ferro com varões serpentiformes (séc. XVIII).”


A pintura mural

Procedemos à descrição sumária da pintura mural que se distribuía, no essencial, por três salas do edifício. Havia mais pinturas, também realizadas a óleo, mas em lastimável estado de conservação, que acompanhavam, com simples molduras e leves ornamentos geométrico-florais, os contornos dos vãos e salas onde se integravam. Descrevem-se as salas 1, 2 e 3. A primeira no 1º piso, correspondendo ao número 42 de polícia, com vão de porta transformado em janela gradeada, conserva um lintel manuelino; e as outras duas, no 2º piso, adjacentes, e sobrepostas aos números 42 e 44 de polícia (ver planta parcial e fotos).

Sala 1 (do relatório realizado em Janeiro deste ano):
Cobertura de abobada, actualmente sem decoração, enquanto as paredes são pintadas com elementos arquitectónicos perspectivados, “pilastras adossadas”, fazendo lembrar, de modo estilizado, a pintura “tromp l`oeil”; as molduras de cor acastanhada, decoradas com motivos fitomorfos estampados, de cor azul, terra de siena queimada e vermelho, assentam no rodameio, abaixo do qual se “aplicaram” placas marmoreadas. Tudo é pintado no sentido de enganar o nosso olhar.
Infelizmente, só uma das paredes conserva uma parte razoável da ornamentação desta sala (já nada existe, foi toda picada para levar novo reboco).

Sala 2
Situa-se sobre a sala 1. É de todas a mais interessante, com painéis historiados, figurativos, fazendo a apologia da origem de Roma. Pela representação das ninfas, cupidos, princesa ou rainha (Dido, de Cartago?), um fauno (representará o rei mítico do Lácio?) e Eneias, mais as legendas, reporta-se ao poema heróico da “Eneida”, do poeta romano Virgílio, obra clássica de carácter mitológico escrita para César Augusto. O autor, Virgílio, morreu em 19 a. C., sem a finalizar, já tinha doze cantos, com cerca de 8000 versos destinados à glorificação e legitimação dos poderes divino e imperial.
O conjunto pictural, com cinco painéis, parece ser obra de artista popular, com boas noções académicas de composição e técnica de pintura. Integra provavelmente diversas fases da Eneida, por exemplo, quando Eneias salva o pai e o filho durante o incêndio e destruição de Tróia por Pirro: “Eneas salvou o pay, e na fugida/ A quem lhe deu o ser lhe aumenta a vida.” (legenda do painel A, alusiva obviamente ao inicio da Eneida); outra legenda, parcialmente ilegível, num painel maior, B, parece fazer referência às ninfas, musas ou graças, que, em numero de três, mais dois cupidos, embelezam provavelmente Elisa ou Dido, rainha de Cartago: “Ap??era(?) Ven(us?)? a d`Ama??? (t?)aças/ ?? servida por mãos das belas Graças.”; outro painel, C, dividido por uma parede de 15 cm de espessura, representa sete figuras, quatro mulheres (as ninfas e uma princesa ou rainha?) e três cupidos, percebendo-se ainda o principio de uma legenda: “O petulant(e) ?????/ ?? ???”; outro painel, D, também dividido pela referida parede, e haveria talvez mais um ou dois painéis na parede do fundo E, quase nada resta a não ser uma legenda: “? Apolo e a lira de (o)uro/ ? convertida em l(ou)ro”, cujos versos poderão referenciar a metamorfose da bela ninfa Dafne em loureiro; o último painel, F, aparentemente já não tem legenda ou nunca a teve, representa seis ninfas?, associadas aos pares com expressões e atitudes diferentes – de resignação, rejeição e vigilância – perante um fauno preso ao tronco de uma árvore (como há uma relação directa entre as mitologias grega e romana, este fauno romano, divindade protectora dos campos e dos gados, até poderia ser Pã, deus dos bosques, grego, filho de Apolo). Fauno, é na Eneida, o terceiro rei do Lácio, cujo filho Latino, a conselho dos deuses, deseja casar sua filha Lavínia com um guerreiro estrangeiro, Eneias, precisamente o herói troiano.
Assim, o painel A tem 70cm de largura; o B, 220; o C, 225; o D, 50 e o F, 235. Entre o rodapé e o rodameio de tons sanguíneos, com cerca de 70cm de altura, pintaram-se imitações de placas marmóreas de tons azulado-esverdeados, como se suportassem as molduras de contorno acastanhado dos painéis que atingem a altura de 240cm. As figuras, assim como o esboço de paisagem, lembram de forma mais pobre alguns dos ambientes das pinturas a fresco de Pompeia ou Herculano, e podem ser cópias de livros ilustrados com gravuras dos séculos XVIII ou XIX. Há um certo ar romântico - com a apologia dos tempos áureos, das tormentas e da esperança - que remete este conjunto de pintura mural para a segunda metade do século XVIII.

A sala 3
Adjacente à anterior, conserva parcialmente uma decoração de base ocre dividida verticalmente por linhas cinzentas e decoração vegetal, fazendo lembrar o papel de parede. À base de cal, o seu colorido e desenho desfaz-se com facilidade. Tal como na sala 2, tudo aqui foi picado, levemente rebocado e coberto de várias cores, entre azul, ocre, e branco, ao longo dos últimos cem anos.

Concluindo: as pinturas já não existem, facto consumado. Foram interrompidas as pontes culturais que poderiam vir a ser criadas com a sua preservação - nomeadamente na relação temática com o célebre mosaico romano, descoberto em Alter do Chão, pelo arqueólogo Jorge António (cf. Público 16/02/09) , representando o último canto da Eneida de Virgílio.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Basílica de Santo Amaro e Castelo de Beja. 1960


Na basílica de Sto. Amaro funciona actualmente o Núcleo Visigótico do Museu Regional de Beja, o mais importante do país. O templo é provavelmente de raíz paleocristã, embora permita outras leituras dos séculos VI/VII, IX/X, XIII, XV/XVI e XVII/XVIII - é, no conjunto, um edificio híbrido no género da igreja de Santa Maria da Feira que primeiramente foi Sé visigótica, depois mesquita, cujo espaço quadrangular ainda mantem, e, por último, templo cristão português, a partir do século XIII. Sto. Amaro fica, grosso modo, à beira da via romana que ligava Beja a Evora e a Lisboa. No castelo medieval, ao lado da magnífica Torre de Menagem (secs. XIII/XIV), no exterior da antiga alcáçova, subsiste in situ, a poderosa estrutura romana, de opus quadratum com arco de volta inteira, das Portas de Évora. A fortificação é grandiosa, conservando ainda, num perímetro de cerca de 1800 metros, 37 das 48 torres que possuía há pouco mais de cem anos.

Abside da igreja de Sta. Maria da Feira. 1969























Na cabeceira polifacetada da igreja de Santa Maria da Feira de Beja, observa-se ainda, em 1969, os trabalhos de demolição da capela da Sra. da Luz, situada na rua a que deu o nome - rua da capelinha - actual de Dr. Manuel de Arriaga. Hoje, apesar da obra de reintegração que tentou deixar somente à vista a abside ducentista, serve para estacionar veículos ou para esconder o lixo. Docs. DGEMN.

Rainha Dona Leonor (1458-1525), natural de Beja.


Inauguração da estátua de homenagem à Rainha Dona Leonor (1458-1525), em Beja, a 8 de Dezembro de 1958, no Largo da Conceição, defronte do Museu Regional de Beja. O escultor foi Álvaro de Brée e um dos mentores do projecto, o professor doutor José Hermano Saraiva.