ICONOGRAFIA PACENSE
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Em A e B notam-se bem as faltas de material. Por enquanto este varandim (esquina oeste) mantém-se, mas, até quando? |
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Varandim oeste em 1943. Já se notavam quebras nos cachorros de suporte do balcão virado para o largo de Santo Amaro. |
A Torre de Menagem
não está a cair
Cai um fragmento de pedra do castelo e, ai Jesus!, que lá vem a torre por
terra…
Não é a primeira
vez nem será a última que o monumento mais visitado da cidade de Beja encerra
parcialmente ao público. Ao contrário do que pensávamos, é uma atitude
responsável e previdente por parte da Câmara Municipal e do IGESPAR, embora a
julguemos um pouco tardia, mas nem por isso extremamente lesiva da defesa do
monumento que ainda está a tempo de ser devidamente intervencionado com os
trabalhos de restauro e consolidação que necessita. O mármore não é eterno,
também sofre ao longo do tempo alterações químicas e físicas que o fragilizam.
A cantaria sobreposta e justaposta resiste a grandes pressões, mas soçobra perante
as infiltrações de água, as grandes amplitudes térmicas e os sismos que por
menos intensos e “insignificantes” que sejam deixam marcas que se vão
acentuando até ao ponto de se tornarem tão visíveis que não podem ser
ignoradas.
A Torre de Menagem do castelo de
Beja, devido aos seus pergaminhos históricos[1], foi
classificada como Monumento Nacional no dia 16 de Junho de 1910, ainda no
período da monarquia. Porém, nestes cem anos (mais uma efeméride), só a partir
de 1938, sob a orientação da DGEMN, lhe prestaram alguma atenção, restaurando-a
e desafrontando-a de casas que a asfixiavam, demolindo em simultâneo outras que
eram do maior interesse para a história da cidade e do próprio castelo. Destes
aspectos já demos notícia em crónicas anteriores da Iconografia Pacense.
Adiante.
O balcão saliente (machicoulis),
assente sobre cachorros, constituídos por vários blocos marmóreos sobrepostos,
que ao nível do 3º piso antecede o acesso ao miradouro do terraço, é uma obra
de arquitectura notável pelo elevado sentido estético que a engenharia do
século XIV solucionou. É precisamente neste balcão que os elementos salientes,
sujeitos a maior esforço, mostram a fadiga dos anos, apresentando as patologias
mais problemáticas do edifício medieval. Dos pontos que mostram fissuras, de
vez em quando, destacam-se alguns fragmentos marmóreos que vão cair nas
imediações da base da torre, quer no interior da praça de armas quer no
exterior junto á barbacã e porta falsa. Foi o que aconteceu no ângulo norte do “machicoulis”
há pouco menos de trinta anos e é, também, o que está a acontecer agora, mas
não com a gravidade de então.
Fazemos votos para que seja
realizado com brevidade, não só a olho, mas também com a utilização de
instrumentos científicos, um diagnóstico sério das patologias que afectam o
monumento, para que o tratamento proposto lhe restitua a autenticidade e a
solidez.
Os bejenses
podem descansar porque o seu exlibris, a Torre de Menagem, não vai cair pelo
simples facto de o visitarem. A Torre está ali para durar e se houve a intenção
de a encerrar totalmente ao público até ao final da intervenção de que há-de
ser alvo, foi mais pelo receio de que alguém, por uma infeliz coincidência, ao
aproximar-se, fosse atingido pelos fragmentos referidos.
Portanto, a Torre, não está totalmente encerrada ao público. Qualquer
visitante pode, sem chegar ao “machicoulis”, entrar nas duas primeiras salas e
apreciar a junção entre os estilos gótico e mudéjar e a sabia passagem, na
primeira sala, através de trompas, de uma superfície pentagonal para uma
cobertura octogonal, enquanto na segunda sala, octogonal, a mais importante e
maior, se abrem para a planície e para a cidade três janelas geminadas ogivais
e um balcão sobre a praça de armas. A complexa abóbada desta sala, nervurada e
em estrela, é das mais belas do país, um nadinha semelhante, mas mais elevada e
mais antiga, do que Ada capela do fundador no mosteiro da Batalha.
Sabemos, pelo vereador Miguel Góis, que estão em curso melhoramentos no
castelo e que haverá necessidade, tal como alvitrámos, de há dois anos para cá,
de abrir um novo posto de turismo fora do castelo. Há dois anos o castelo
fechou durante vários meses, apesar de todos os pedidos que fizemos em sentido
contrário, impedindo a visita a milhares de utentes da OVIBEJA, cujo certame,
incontornável na cidade, no Alentejo e no país, confere às entidades competentes
maior responsabilidade. Mesmo assim, apesar do sucesso da OVIBEJA, ainda há
quem não lhe veja vantagens. Feitios…
Desta vez, apesar das patologias de que sofre o monumento, o castelo está
aberto. Já só falta o Museu Militar, para que sejam dignificados todos aqueles
que ofereceram o espólio que antes pertencia às suas famílias.
condicionam a
sua visão plena.
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Fragmentos dos cachorros, parapeito e merlões do varandim sul do machicoulis |
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Ângulo sul da torre de menagem de Beja e arco romano das portas de Évora |
Nota: este artigo veio publicado em 2010 no Diário do Alentejo, portanto, nada de confusões, refere-se à realidade desse momento. A vereação municipal era outra, sabia-se que a torre não estava de muito boa saúde e estava em curso, mas parece que nunca foi concluída, uma análise mais profunda das patologias do monumento. Tal como dissemos neste artigo, o que acontecera quase trinta anos antes com a queda de um suporte, cachorro, do varandim norte da torre, poderia voltar a acontecer, em qualquer altura, se não fossem tomadas as precauções necessárias. Foi o que aconteceu no dia 13 de Novembro de 2014, colapsou a parte mais saliente do varandim sul do “machicoulis” que envolve a torre. LBorrela